Direito à cidade: qual cidade queremos?

Um debate que coloca em jogo arte de viver juntos, que valorize a relação e a cooperação / Por Vivian Blaso

Vivian Blaso

Desde a publicação do manifesto Convivialista, os movimentos dos indignados, Occupy Wall Street as cidades abrem -se aos diálogos sobre os novos pensamentos dos “comuns”.

Antes de avançar é preciso refletir a respeito de alguns aspectos que marcaram a história do desenvolvimento da cidade de São Paulo, que hoje após o desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu volta a ocupar o debate na imprensa nacional e internacional e trazer as evidentes disputas territoriais, as lutas sociais, políticas e econômicas que estão em jogo no centro da cidade de São Paulo.

São Paulo, nos tempos da industrialização foi considerada pelo historiador Ernani Silva Bruno em sua obra: “História e Tradição da Cidade de São Paulo” como provisória, marca de uma rápida expansão que já apontavam características de sua urbanização.

Nas décadas de 80 e 90 foi denominada de “Cidade Patchwork”, pela pesquisadora Dra. Lúcia Maria Machado Bógus do Observatório das Metrópoles, para demonstrar os traços de desigualdade e fragmentação pelo qual as cidades brasileiras estavam passando durante o século XX.

Nessa época, os condomínios fechados, conjuntamente com as operações Urbanas Consorciadas, faziam parte da dinâmica de alterações espaciais da cidade. No caso da operação urbana localizada nas regiões da Faria Lima e Água Espraiada configuraram o surgimento de uma nova centralidade econômica.

São Paulo deixava de concentrar as atividades econômicas na região da Avenida Paulista, antigo centro econômico da capital, para ocupar o corredor sudoeste, local ideal para o desenvolvimento de uma nova capital voltada para serviços atendendo a demanda econômica global. Neste momento, o centro atravessava uma desvalorização imobiliária, o aumento das problemáticas urbanas relacionadas à segurança, desigualdades sociais e precarização da qualidade de vida das pessoas que residiam na região.

No período entre 1990 à 2011, a ONG “Viva o Centro”, contribuiu com realizações tanto do poder público, como da iniciativa privada, para que o centro histórico da Cidade de São Paulo tivesse novas configurações. De acordo com as informações encontradas no site, em 2004, houve a transferência de órgãos do Poder Público para áreas centrais, restauros e reformas de espaços e edifícios públicos como: Largo São Bento, Viaduto do Chá. Restauros em Edifícios Públicos. Reurbanização de áreas centrais como Vale do Anhangabaú e Praça Roosevelt, além de novos empreendimentos do setor imobiliário, hoteleiro e de lazer.

Em recente matéria publicada pela Folha de São Paulo no dia 05 de maio de 2018, intitulada “Mercado imobiliário paulista retoma fôlego. Construtoras da capital investem em nichos e voltam a crescer num setor ainda em crise” o centro passa a atrair novamente os interesses do setor imobiliário em um mercado de nicho para atender a demanda do déficit habitacional de habitação que já ultrapassa 6 milhões de domicílios o que representa 10% dos domicílios permanentes segundo a Fundação João Pinheiro.

No centro da cidade de São Paulo temos inúmeros edifícios que não cumprem a sua função social, e os movimentos populares em defesa da luta por moradias que reivindicam o direito à cidade. E ainda temos a Lei nº 11.888, de 24 de dezembro de 2008, que assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social como parte integrante do direito social à moradia previsto no art. 6o da Constituição Federal.

Cidades Afetivas, um observatório dos movimentos afetivos que ocorrem nas cidades propõe-se a investigar a atuação dos coletivos nas ruas, nas praças, nos parques, no espaço público como lócus de produção e reivindicação de outras formas de existência – reescrevem os modos de viver o contemporâneo. Em etnografia realizada nas últimas semanas após o desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu nos relatos dos moradores das ocupações as reivindicações são antigas, mas a luta é cotidiana. São reivindicações pelo direito a sobreviver, ou melhor viver do próprio suor do trabalho.  Afinal qual a cidade queremos? Transitória, Patchwork, Afetiva? Queremos uma cidade onde seja possível viver do próprio suor do trabalho.

Professora Vivian Blaso, Doutora em Ciências Sociais, pesquisadora no Complexus – Núcleo de Estudos da Complexidade na PUCSP. Autora do livro Cidades em Tempos Sombrios. Barbárie ou Civilização, Idealizadora do Cidades Afetivas.

Serviço:
Cidades Afetivas
contato@cidadesafetivas.com.br
http://www.cidadesafetivas.com.br/


 

 

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